Brasil: Investir em educação superior não está aumentando a produtividade do país.

Por que o Brasil não "decola"? O nó entre educação ruim e economia travada

Por que o Brasil não "decola"? O nó cego entre educação ruim e economia travada

Você já teve a sensação de que o Brasil "anda de lado"? Que, apesar de tanto potencial, o país parece patinar, sem conseguir dar o salto para se tornar uma nação desenvolvida? Essa percepção não é só sua; ela é confirmada por dados.

Muitas vezes, o debate público joga a culpa em "falta de empreendedorismo" ou em "leis trabalhistas" muito rígidas. Outros apontam que o governo deveria investir mais em educação básica, em vez de focar tanto em universidades.

Mas será que o problema é uma coisa ou outra? Uma pesquisa profunda sobre o tema mostra que o buraco é mais embaixo. A verdade é que o Brasil está preso em uma "armadilha": nossa educação de baixa qualidade e nossa economia de baixa produtividade se alimentam mutuamente, em um ciclo vicioso.

Vamos desatar esse nó.

1. O Diagnóstico: Onde estamos (e por que não saímos do lugar)

O Brasil tem dois problemas crônicos que aparecem em todos os diagnósticos:

  1. Produtividade Estagnada: Nossa economia não consegue "fazer mais com menos". Com exceção do agronegócio (que é um gigante tecnológico), a indústria e os serviços patinam há décadas. Pior: em muitos períodos, os salários subiram sem que a produtividade aumentasse junto, o que torna nossos produtos mais caros e menos competitivos.
  2. Educação de Baixa Qualidade: Nossas notas em avaliações internacionais são consistentemente ruins. Mesmo quando melhoramos um pouco em nossas próprias métricas (como o IDEB), os resultados do PISA (a "copa do mundo" da educação) mostram que estamos muito atrás da média dos países desenvolvidos (OCDE) e até de vizinhos como o Chile.

O Elefante na Sala: O "Custo Brasil"

Além de tudo, temos um fardo que nossos concorrentes não têm: o "Custo Brasil". Não é só imposto. É a "mochila pesada" de burocracia, logística ineficiente, insegurança jurídica e juros altos. A CNI estima que esse custo chegue a R$ 1,7 trilhão por ano. Em um ambiente assim, a empresa gasta mais energia tentando sobreviver à burocracia do que investindo em inovação.

Veja esta tabela que compara o desempenho na educação (PISA 2022) com a produtividade. Os números não mentem:

País PISA 2022 - Matemática (Média: 472) PISA 2022 - Leitura (Média: 476) Contexto de Produtividade
Brasil 379 410 Estagnada (indústria/serviços)
Coreia do Sul 527 515 Crescimento robusto e alinhado à indústria
Polônia 489 489 "Salto" de produtividade após reformas
Média OCDE 472 476 Crescimento modesto, mas positivo

2. O Paradoxo do Diploma: Mais Anos de Estudo, Mesma Produtividade

Aqui está o ponto central da nossa crise. Nas últimas décadas, o brasileiro, em média, passou a estudar por mais anos. O número de diplomas aumentou. Mas, como revelou um estudo do Insper, essa "escolaridade" maior não se converteu em maior produtividade.

Isso prova que o problema não é a quantidade de diplomas, mas a qualidade do que é aprendido. Estamos formando pessoas que, apesar de terem passado mais tempo na escola, não desenvolveram as competências cognitivas (leitura, matemática, interpretação) necessárias para inovar e agregar valor no mercado de trabalho.

O Banco Mundial chama isso de "talento perdido". Temos milhões de "Belas" (história usada pelo banco): jovens talentosos de origem pobre que, mesmo com esforço, não conseguem empregos à altura de seu potencial por causa de uma educação básica deficiente ou por barreiras de entrada no mercado.

3. Onde Estamos Investindo? O Dilema entre Universidade e Escola

Muitos se surpreendem ao saber que o Brasil, como proporção do PIB, gasta mais em educação do que a média dos países ricos da OCDE. Então, por que o resultado é tão ruim?

A resposta está na alocação: operamos um "funil invertido".

"O Brasil investe tanto quanto países da OCDE no ensino superior, mas destina três vezes menos à educação básica."

Gastamos fortunas no topo da pirâmide (universidades) e muito pouco na base (escola). Políticas como REUNI, Prouni e FIES, de fato, democratizaram o acesso ao ensino superior, o que foi um avanço social importante. Contudo, do ponto de vista econômico, foi como construir o telhado de uma casa sem ter fundações sólidas.

Jogamos na universidade milhões de jovens que saíram da escola sem saber o básico. O resultado é uma alta evasão, uma queda na qualidade do ensino superior (que precisa gastar tempo "nivelando" alunos) e, no fim, profissionais diplomados, mas com baixa produtividade.

4. As "Soluções Mágicas" funcionam sozinhas? (Spoiler: não)

E quanto às outras reformas, como abrir a economia e flexibilizar as leis trabalhistas?

Abertura Comercial

Expor a indústria brasileira à concorrência internacional (abrindo o mercado) é, sim, um remédio para a produtividade. A concorrência força as empresas a se modernizarem e a "importar tecnologia". Mas, se fizermos isso sem antes reduzir o "Custo Brasil", o resultado é a falência da indústria nacional, que não consegue competir.

Reforma Trabalhista

A Reforma de 2017 teve efeitos mensuráveis: reduziu a litigiosidade e a rotatividade (aumentando o tempo médio do funcionário na empresa). Isso é bom, pois o empregador só investe em treinamento se o funcionário ficar. A reforma, portanto, criou a condição para o investimento em produtividade, mas não a gerou sozinha. De que adianta a empresa querer treinar, se o funcionário não tem a base educacional para aprender?

5. O que fizeram os países que "viraram o jogo"?

O Brasil não precisa reinventar a roda. Basta olhar para quem fez o dever de casa.

  • Lição 1: A Polônia. Nos anos 90, estava atrás do Brasil no PISA. Fez uma reforma radical focada em 3 coisas: padrões nacionais (o que ensinar), avaliação rigorosa (medir se aprendeu) e autonomia para os diretores de escola. O resultado? Deu um salto na educação e na produtividade.
  • Lição 2: A Coreia do Sul. Desde os anos 50, alinhou sua política educacional à sua estratégia de desenvolvimento industrial. Primeiro, universalizou a educação básica. Depois, focou no ensino técnico (para a indústria leve). Só então, investiu pesado em universidades (para a indústria de tecnologia). Foi um *plano de país*, e não políticas isoladas.

6. A Saída: A Armadilha da Interdependência

O diagnóstico é claro: o Brasil está preso na "armadilha da interdependência". Reformas isoladas não vão funcionar.

Pense nestes dois cenários:

Cenário 1: Só Reformar a Economia (Sem Educação)
O Brasil reduz o Custo Brasil e abre o mercado. As empresas precisam competir, mas não encontram mão de obra qualificada. Resultado: desindustrialização e desemprego em massa.

Cenário 2: Só Reformar a Educação (Sem Economia)
O Brasil faz um milagre e conserta a educação básica. Formamos milhões de jovens brilhantes, que não encontram empregos à sua altura, pois a economia continua fechada, burocrática e ineficiente. Resultado: frustração, subemprego e "fuga de cérebros".

A única saída, portanto, é um pacto de longo prazo que ataque os dois problemas ao mesmo tempo.

Precisamos de uma revolução na educação básica (focada em formar bons professores e em gestão baseada em resultados) e, simultaneamente, de uma agenda de competitividade econômica (para reduzir o Custo Brasil e forçar a inovação).

É um caminho difícil, longo e que exige coordenação. Mas é o único que pode, de fato, destravar o potencial do Brasil.

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